terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Muitas coisas ... - Montaigne.


Michel de Montaigne.

Muitas coisas parecem maiores quando pensamos nelas do que quando com elas deparamos. Passei boa parte de minha existência em perfeita saúde, não somente ignorando a doença, mas ainda cheio de vida e atividade. Esse estado de verdor e alegria fazia-me temer a tal ponto a enfermidade que, ao experimentá-la, a achei menos horrível do que imaginara. Eis um fato que se repete cotidianamente comigo: se me encontro comodamente aquecido no meu quarto durante uma noite de tempestade, tremo pelos outros e me apiedo deles. No entanto, se me acho eu próprio na tempestade não procuro sequer um refúgio. Estar constantemente fechado dentro de um quarto, parecia-me insuportável. Uma doença que muito me aborreceu, mudou-me e me enfraqueceu a ponto de me obrigar a guardar o leito durante cinco semanas. Verifiquei então que, quando estava com saúde, os doentes me pareciam muito mais dignos do que eu em idêntica circunstância e que minha apreensão dobrava quase a desgraça real. Espero que ocorra o mesmo quanto à morte e que ela não valha em verdade todo o esforço que faço para me preparar a recebê-la dignamente, nem todos os recursos que tento juntar a fim de resistir a seu ataque. Em todo caso não convém negligenciar nenhum de seus aspectos.

Ensaios - Tomo I – pág. 176
12/09/2007

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