Michel de Montaigne.
Muitas coisas parecem maiores quando pensamos nelas do
que quando com elas deparamos. Passei boa parte de minha existência em perfeita
saúde, não somente ignorando a doença, mas ainda cheio de vida e atividade.
Esse estado de verdor e alegria fazia-me temer a tal ponto a enfermidade que,
ao experimentá-la, a achei menos horrível do que imaginara. Eis um fato que se
repete cotidianamente comigo: se me encontro comodamente aquecido no meu quarto
durante uma noite de tempestade, tremo pelos outros e me apiedo deles. No
entanto, se me acho eu próprio na tempestade não procuro sequer um refúgio.
Estar constantemente fechado dentro de um quarto, parecia-me insuportável. Uma
doença que muito me aborreceu, mudou-me e me enfraqueceu a ponto de me obrigar
a guardar o leito durante cinco semanas. Verifiquei então que, quando estava
com saúde, os doentes me pareciam muito mais dignos do que eu em idêntica
circunstância e que minha apreensão dobrava quase a desgraça real. Espero que
ocorra o mesmo quanto à morte e que ela não valha em verdade todo o esforço que
faço para me preparar a recebê-la dignamente, nem todos os recursos que tento
juntar a fim de resistir a seu ataque. Em todo caso não convém negligenciar
nenhum de seus aspectos.
Ensaios - Tomo I – pág. 176
12/09/2007
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