O outro. E eu?
Até onde pode alcançar a minha reza? A minha macumba?
Por aonde vão minhas intenções, carregadas de adrenalinas, boas ou más, até atingir o outro? Como poderão atingir o alvo, se atiro pensamentos e a minha vítima está num poço, num abismo, ou está no mais longínquo da estratosfera?
De que me adianta torcer pelo sucesso ou insucesso do outro se, da arquibancada, não poderei empurrá-lo, nem freá-lo? De onde estou só posso ler as plaquetas dos recordes ou dos fracassos. Quando ele olhar para a arquibancada, dificilmente me encontrará no meio da multidão.
De que me adianta cuidar do outro, se assim agindo poderei irritá-lo, ou ajudá-lo insuficientemente? Ou influenciá-lo exageradamente, positiva ou negativamente?
Qual o bem que posso desejar para o outro, se só ele sente o que verdadeiramente lhe será vantajoso? O melhor para o outro poderá não ser o mesmo que estiver na minha intenção.
Se me preocupo com o outro porque o imagino carente de tal, posso estar ignorando o que verdadeiramente o aflige, na sua intensidade, na sua abrangência. Se tentar ajudá-lo, poderei, involuntariamente, desagradá-lo, empurrá-lo para o mal.
Clarice Lispector disse: “Um dia, tinham se passado vinte anos".
Enquanto me preocupo com as carências e falências do outro, o tempo passa.
Se tudo que intento para o outro me conforta, ou me traz a paz cruel da ira, mas, na verdade, não ajuda nem importa, porque não uso essas energias por mim?
Ah, como é importante o outro!
E eu?
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