domingo, 4 de novembro de 2012


Excerto do conto "O mistério da bateleira amarela".

Ali, naquele momento histórico, naquele bar de cinco mesas enjambrado em cima da garagem da casa do Orlando, estavam reunidos praticamente todos os moradores daquela rua (também chamada de morro, dada a inclemência da subida), lotando o estabelecimento com gente até na calçada, para decidir uma coisa inédita: a compra de uma canoa por uma turba.
Depois de três reuniões noturnas sucessivas e depois de terem conseguido reduzir o preço pela metade, decidiram pagar os quatorze mil cruzeiros, arrecadados dos moradores, conforme a relação pregada na parede do bar. Estes foram os cidadãos que se apresentaram, cada um com mil cruzeiros, selando o negócio:
– Sepúlveda Andono, advogado, aposentado.
– Gogan Nagot, pintor, jardineiro, mecânico, encanador, pedreiro e carpinteiro.
– Adomiro Salta, afamado criador de cachorros brasileiros de pedigree.
– Clementina Tuvai Veres, filha de Maura, a castiguenta, sabida, mas não difundida prostituta.
– Fúlvio Atavalo Braum Buíque, taxista da praça Quinze.
– Marili Jurássica, professora primária aposentada, mãe de Paudinho e de Paula da Venta.
– Alberico Bomdebanho, português, aposentado da marinha mercante, encarregado do transbordo da embarcação para a prainha (que ficava no final da rua, lá embaixo, onde ficaria guardada) e provável timoneiro oficial.
– Borisca Qpardiu, mãe de Fefê e de Quélé, padeira.
– Vianei Clesoquê, pai de Peri, viúvo de Samantuva, a doceira.
– Purolla Olaiolla, pai de Piorolla e de Piourolla, contratante de festas, veado.
– Godofredo Dantico, motorista de caminhão, favorecido com uma perna (o acidente foi tão violento que o médico disse que o que sobrasse era lucro).
– Zelindo Boreal, maneta, apontador de jogo do bicho, desenganado pela polícia.
– Beg Eiria Furtada, viúva de Badanho, tia de Tonho e de Tanho, “amiga da marinha”, trambiqueira de Foz do Iguaçu, e seu namorado Joliú Guriprudente dos Santos, marinheiro, carioca, ali de passagem.

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