segunda-feira, 5 de novembro de 2012

            Excerto do conto "Às vezes, quase nada é tudo!" (Irmãs Brasil)          


            ...

Afinal, já tinham combinado com a velha amiga Micaelina Ovapova, viúva do cônsul russo em Porto Alegre, que as receberia tão logo o ônibus encostasse no terminal, às seis horas da manhã seguinte.
Brida, a mais nova e a mais baixinha, não cansava de criticar Brunde:
– Desaforo! Devias ter insistido. Viajar no rabo do ônibus a noite toda!
Branda, a do meio, muito tímida, pouco falava, ainda mais que comera um pastel de camarão com tim no bar da rodoviária, e a coisa parecia que não tinha caído lá muito bem. Tanto que, de repente, puxou Brunde pelo braço, do outro lado do corredor, e sussurrou:
– Eu não tou bem, acho que preciso ir ao banheiro.
– O quê foi?
– Tou com um apertume que, se não desapertar logo...
– Então vai.
– Vem comigo.
– Vai sozinha, ora, és bem crescidinha.
– Não, sozinha eu não vou.
– Psit, tá bom, vamos. Levantaram-se e já estavam à porta da toalete. Brunde virou-se para Brida e falou:
– Cuida bem das nossas coisas. Não vai pregar os olhos. Qualquer coisa, grita!
Brunde custou para abrir a porta; acendeu a luz e falou:
– Como é que vamos caber nós duas aqui dentro? Vai que eu fico do lado de fora, cuidando. Fecha bem a porta.
– Tá bom, mas não me sai daí. Ai, meu Deus, ligeiro!
Brunde, a irmã bem guardada, examinou em volta: tudo tranqüilo, ninguém olhando, sentou no lugar da Branda, ao lado de Brida.
– Foi aquele pastel. Branda não tem mais idade pra essas coisas.
– Tá bom, Brida, deixa ela. Então não se pode mais ir ao banheiro?
...

Nenhum comentário:

Postar um comentário