terça-feira, 2 de outubro de 2012


(Excerto do conto "Um dia na praia dos Ingleses", da obra Brunde, Branda e Brida e outros contos - Irmãs Brasil).

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Desde então, era lei, naquela casa, bicho nenhum entrava.
Dizem que os pequenos tentadores de Belzebu, quando atacam uma pessoa fraca, a infeliz fica cega. E o que mais nela se nota é a vontade excessiva em transgredir, enfrentar, debochar das leis. Brunde e Branda, quando quiseram ter seus animais de estimação, mostraram-nos, vaidosas, para todos. E argumentaram, e trabalharam intensamente no convencimento para tentar criá-los com todo amor. Por isso é que Brida, rebelde por natureza, e, invadida pelo demônio, não poderia ser qualificada como normal ao tomar aquela atitude de desobediência, de belicosidade.
Sun Tsé, o grande teórico da guerra, diria: o inimigo, para ser subjugado, precisa ignorar todas as ações para que, na hora do ataque, a surpresa seja elemento decisivo.
Queria Brida, tão boazinha, tornar-se a líder, desbancando a idade, a longevidade e a liderança natural de Brunde? Se isto seria impossível, e ela sabia, por quê Brida agia assim, meu Deus?
Sun Tsé também ensinou: “Sê sutil a ponto de seres invisível. Sê misterioso a ponto de seres intangível. Assim controlarás o destino dos teus rivais". Estaria Brida lendo o chinês, para agir daquela maneira? Indiscutivelmente, ela usara de muita argúcia, muita técnica, muito cinismo e malandragem para, durante meio ano, criar duas tartaruguinhas que chegaram com o tamanho de uma moeda de um real e já estavam do tamanho de um real inflacionado, do tamanho de umbigo de mulher gorda.
“O mar não provaleci”, dizem os manézinhos da Ilha. Traduzindo, o mal não é eterno, nunca suplantará o bem. A tragédia estava desenhada, todos sabemos, e Brida foi desmascarada.
Dizem que a pele é o maior órgão do nosso corpo mas, o coração, não tenhamos dúvidas, é o mais forte. Aqueles três corações arquejantes, agüentar o repuxo do violento mar de ódio em que se meteram quando Branda viu Tissa e Tessa indo, faceiras, em sua direção (Brida, quando fez a cama, sem perceber virou com a ponta do lençol a caixa/casinha, e elas se mandaram), não há dúvida, eram espantosamente resistentes. Ou, se não, se alguém acredita, cada um tem a sua hora.
– Dá aqui! São minhas filhinhas! – gritou Brida para Branda.
– Brunde, acode, a Brida...! – conseguiu soltar Branda, sem ar que estava.
– Uquiéissu? Que loucura é esta? – perguntou Brunde, ao chegar, vendo Branda empalidecida, completamente inexpressiva e, ao mesmo tempo, embevecida, com a visão que tivera, e vendo Brida, vermelhona, com tanto ódio que a boca, torta, tremia.
– Ninguém vai tirar elas de mim! Nem tu, nem tu! – berrou a transgressora, rodando o braço, em atitude de ataque e defesa. Quando Brunde viu os animais, amparados com tanto fervor pela irmã, lembrou-se de Pejô, e vomitou:
– Muito bem, dona Brida. Nós já estávamos desconfiadas de que a senhora estava aprontando alguma! Agora, fazendo da nossa casa um zoológico escondido, tinha que ser tu! Tu! 
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