quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A solidão e o ovo.


                    A solidão e o ovo.

A solidão mete medo, porque torna o homem desprotegido, vulnerável.

Solidão é castigo?

O homem, tendo vivido cercado, quando todos se vão, por desprezo ou pelo distanciamento, ou pela morte, se parece com um ovo. Nu, sem recursos, está sujeito a qualquer evento. O solitário é um ovo abandonado.

A criança, nascida, que diferença tem de um ovo? É logo afagada; o ovo posto é largado no chão.

Quem um dia ficou só, teme a solidão.
O solitário é uma criança que virou ovo em vida.

Morte, solidão eterna. Assim que se encerram os cantos, todos os cantores se vão.

O quê falta para o solitário? Alguém na cadeira.
O quê tem de sobra, o solitário? Excesso de si no seu pouco-mundo.
O quê mais teme, o solitário? A multidão.
O quê espera o solitário? Batidas na porta.
A quem importa o solitário? Não conta, não importa.
O quê faz o solitário? Coisas, sem registros, nem lembranças.
Como o peixe que nunca será notado porque não pescado, a solidão encobre o homem nas trevas do esquecimento. 

17 jan 13

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