sexta-feira, 19 de outubro de 2012


                                  Diaraki – o mentólogo (membro da seita de Pá!)

                                                               Olhar e ver.

            O pequeno pássaro, com a comida redondinha, branquinha, no bico, que não temeu em ficar perto dos meus pés, naquela minha caminhada matinal, foi irresponsável, ou estava querendo ser amigável?            
            Aquele pássaro, até aquele momento, não existia para mim. Passou a existir no momento em que eu o vi, mais ou menos como falou Einstein: a Lua só existe para você quando você a vê. Quanto mais vemos o outro, mais forte é a sua existência. Quanto menos eu vejo o outro, mais inexistente, insignificante, inexpressivo, ele é para mim.
            O pássaro, quando se deparou comigo, me “olhou indiferentemente”, diferentemente de mim, que o “vi”.
            Ver é olhar e pensar na coisa, refletir sobre a coisa, é olhar com interesse.
            Olhar, simplesmente, sem interesse, não conta.
            Quando vemos uma coisa, ou seja, quando a olhamos com interesse, lhe damos um valor.
            O que vimos, tudo o que vimos, não tem mais valor, pois não temos mais como ver e avaliar. Nossos valores, hoje, são outros. O que registramos foram coisas que olhamos com interesse, naqueles momentos, e que tiveram valores para aqueles momentos. Só o que nos atinge, nos toca, nos preocupa, neste momento, é que tem valor para as nossas vidas.
            Para avaliarmos algo, precisamos ter todos os dados necessários à mão, no exato momento da visualização. Tentar avaliar, hoje, o passado, ou tentar prever o futuro, sem dispor de todos os dados necessários, constituintes, é impossível!
            Por isto é que o passado não tem valor algum para hoje. E, o futuro, não temos como imaginá-lo, nem influenciá-lo, nem programá-lo.
            O valor que conferi ao pássaro só tem um significado: ele ficou na minha lembrança. O que restou de tudo foi a lembrança dele, não o valor que lhe conferi naquele momento. Mesmo porque não tenho como mensurar, medir, avaliar, hoje, o valor que lá ele teve para mim.
            Nem todos os pássaros, e nem todas as pessoas, que passaram por nossas vidas, tiveram algum valor.
            As pessoas das nossas vidas têm valor na exata medida do interesse que temos por elas.  O bom de “ver” as pessoas que nos cercam é que, quando vistas, elas se valorizam. E, quando se sentem valorizadas, passam a nos ver com interesse. É quando, também, passamos a ter algum valor para elas. Nesses momentos a vida passa a ter sentido, passa a valer a pena.

            Diaraki.

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