O meu iglu.
Aflora, lá fora, um mágico,
no branco nú.
Esperado invernos a fio,
no suspense mortal e frio,
do meu iglu.
Me olha de fora e eu, tenso,
no meu contexto,
me vejo perdido, partido,
sem chance de, arrependido,
ter aceito qualquer pretexto.
Então me grita alucinado
que eu estou atrasado,
que eu vá correndo,
que eu esqueça todo o passado horrendo
em que vivi hibernado.
Mas temo, indeciso, o mágico.
O que me diz tem fundamento?
Quem me garante que, saído,
eu não ficarei perdido,
gelado e ferido, ao relento?
O meu iglu.
Dele não saiu estampido,
nele o vento não foi sentido,
nele vivi sem sentido.
Lá fora, no branco nú,
eu vislumbro o outro lado,
puro, enorme e sem pecado,
promessa do paraíso,
em troca do meu juízo.
O mágico, que tudo pode fazer,
quem sabe transforma em amor
toda esta carga de dor
e me faz enfim renascer?
Então eu vou.
Pois foi na sua visão
e na garantia do seu perdão
que revivo estou.
Mallandré – 30.10.92
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