Revista Veja, 22 ago 2012 - Pag.
84/85 – Filipe Vilicic entrevista o
psicólogo americano, Michael Shermer.
“Por que se
acredita no inacreditável”
Estou
um tanto cansado dos espertos. Há muitos experts em malandragem. Tenho ignorado
muitos, mas há um momento em que eu não resisto, como agora.
Vivo
cansado de ver o sr. Richard Dawkins, biólogo inglês (o “grande líder dos
ateus”), sair por aí agredindo todas as religiões e seus seguidores.
Penso
que há muitos adeptos do senhor Dawkins, depois de ler o artigo que ora
comento.
Este
senhor, Michael Shermer, psicólogo, escritor e historiador da ciência
estadunidense, criou uma ONG, uma revista (Skeptic Magazine), sites e programas
de TV, focados em promover o pensamento científico e desmascarar charlatães.
Analisei
toda a entrevista feita pelo jornalista Filipe
Vilicic, parágrafo a parágrafo, e me deparei com uma figura como tantas que
exploram a crença das pessoas como meio de vida. Vejamos quem é o charlatão em
toda esta história:
1. Ele diz que o cientista precisa “desmascarar charlatães crentes”, quando
quer promover o pensamento científico.
Eu pergunto: porque estes
senhores que propagam a ciência, agridem quem acredita em Deus? O quê tem a ver
uma coisa com a outra? Qual a finalidade, para a ciência, de uma campanha para
desmascarar crentes? Estas pessoas põem em risco a ciência?
2. Diz ele que “a tendência de se iludir com fantasias é
própria do processo mental humano e defende o combate à crendice em favor do
progresso”.
Eu pergunto: não pode,
então, haver progresso com crendices à solta? O que tem a ver o cientista que
descobre a cura para uma doença entre as quatro paredes do seu laboratório com
a missa das dez aos domingos? O cientista, não combatendo as crendices,
impedirá progresso?
3. Ele afirma que “um hominídeo, milhões de anos no passado, ao
ouvir um barulho no mato próximo poderia imaginar que fosse”:
a) um inofensivo vento;
b) se não um vento, poderia ser um predador que o devoraria;
c) poderia ser uma divindade perigosa e dela se afastaria;
d) poderia imaginar o perigo e fugir para garantir a sobrevivência
(opção que a maioria adota), garantindo também a sua ignorância (do que estava
ocorrendo);
e) ir até o mato e verificar do que realmente se tratava o barulho,
exigindo do hominídio curiosidade e disposição para a batalha contra os
instintos – “É nesta categoria, a dos
homens que não se rendem a narrativas fictícias que ele enquadra os
cientistas”.
Minha opinião: fosse
assim, há milhões de anos no passado, se lá houvessem cientistas, não sobraria
um. Seria uma catástrofe para o progresso humano. Os hominídeos que ouvissem um
barulho no mato próximo e, “lutando
contra os seus instintos”, machões, fossem lá conferir, dia claro, ou no
escuro tenebroso das noites, me diz: “tás querendo me gozar, irmão cientista?”
Onças, hipopótamos, tigres, etc., todos famintos, sem escrúpulos (escrúpulo foi
inventado séculos atrás), são sinônimos de “narrativas
fictícias”?
4. Ele afirma que “há padrões de ondas cerebrais distintos que
nos levam a criar crendices e a ter prazer na constatação de que temos
respostas às nossas dúvidas (a neurociência identifica)” .
Eu pergunto: e qual é o
problema em termos “prazer na constatação de que temos respostas às nossas
dúvidas”? O que isso tem a ver com
a ciência? Ele continua: “em situações
extremas, o cérebro reage com a redução da atividade na área responsável pela
consciência e com o aumento (da atividade) em regiões ligadas à imaginação.
Essa reação natural está na origem das alucinações”. Então aqueles que
acreditam num deus vivem “em situações
extremas”, criando fantasias sobrenaturais e vivendo sem consciência? São,
os crédulos, uma raça de abobalhados sem discernimento?
5. Vilicic lhe pergunta porque, “tendo sido um cristão evangélico ativo, ele
se tornou um cético?” Ele responde: “...
desvencilhei-me da crença ao entrar para a comunidade científica. O método
científico, cujo princípio básico é o de que qualquer afirmação deve ser
comprovada em experimentos repetidos, alimenta o ceticismo e favorece o
progresso”.
Então eu pergunto:
a) quem entra para a comunidade
científica é obrigado a desvencilhar-se das crenças? Não há como uma grande
cabeça, um homem, ou mulher, inteligente, tornar-se um(a) grande cientista
acreditando em alguma coisa? Toda a sua capacidade técnica perderá o valor se
ele (ela) acreditar em um deus, ou em uma deusa, ou em uma comunidade de
deuses, ou em uma kombi cheia de deuses?
b) o cientista cético que nega o
crente, comprova, pelo método científico, em experimentos repetidos, que,
definitivamente, deus não existe?
6. O jornalista continua: “o que faz com que a ciência seja a melhor
ferramenta para explicar o mundo?” – Ele responde que “a ciência é democrática. Qualquer um pode estudar e chegar a
conclusões racionais. Cientistas estão abertos à possibilidade de estarem
errados e, por isso, promovem a invenção e a reinvenção de conceitos. É o que
garante o avanço do conhecimento. A crendice é intolerante. Fixa uma verdade e
não abre espaço para perguntas. Se nos apegássemos apenas ao sobrenatural,
nunca teríamos saído da floresta e criado a civilização”.
Vejamos:
a) quem não é cientista não é
democrático? O crente não pode chegar a conclusões racionais fora da ciência? O
que acontece com os cientistas que não chegam a conclusões racionais?
b) “promover a invenção e a reinvenção de conceitos, garantindo o avanço do
conhecimento”, nada tem a ver com o fato de alguém acreditar num deus.
c) porquê um crente tem que ser
tolerante com o cientista que não admite a sua crença? Ele não é intolerante
com os crédulos?
d) então a raça humana, nos seus
primórdios, lá longe, há milhões de anos, onde os homens e todos o animais eram
conviventes, desapegou-se das suas crenças e dos seus medos para sair da
floresta e criar a nossa civilização? Em que os hominídeos se apegaram,
abandonando o sobrenatural, brother? Na ciência daqueles tempos? Indo para o
meio do mato à procura de bicho papão?
7. O jornalista, então, pergunta:
“no mundo moderno, ainda precisamos de
crença?” – Ele responde: “ideologias
também precisam da habilidade de crer. Eu acredito no liberalismo, na
democracia e nos direitos humanos. Podemos, porém, abandonar o que não pode ser
explicado, como deuses e bruxos. Não nos faria falta”.
Então tá:
a) o que tem a ver a sua simpatia
e fé por ideologias políticas e humanas com o fato de “José acreditar em Santo
Antônio?”
b) que prejuízo terá a ciência se
aqueles que acreditam em bruxos e deuses não abandonarem suas crendices?
Bilhões de pessoas em toda a história da raça humana acreditaram e acreditam em
deuses, e este fato jamais prejudicou o avanço da ciência. Caso não houvessem
religiões, mundo afora (10.000 – como ele afirma), haveria um progresso maior?
Me diz, brô!
c) “não nos faria falta (abandonar o que não pode ser explicado, como
deuses e bruxos)” – A quem não faria falta? Aos cientistas? E se não
fizesse falta, o que ganhariam os cientistas com isto? E a ciência catapultaria
para o infinito, resolvendo todos os problemas do homem, definitivamente? Algum
cientista, inimigo dos crentes, precisa saber que deuses, bruxos e mitos não
podem ser tirados, extraídos, arrancados, dos homens que têm fé (e não odeiam a
ciência).
8. “Há vantagens na crença?”, pergunta o jornalista. Eis sua
resposta: “A crença em divindades nos levou a temer o mundo e, com isso, nos
ajudou a sobreviver. Também contribuiu para a formulação de leis que regiam
comunidades primitivas. A moral e a ética nasceram da religião”. Lá atrás
(8) ele não afirmou que “se nos apegássemos apenas ao sobrenatural, nunca
teríamos saído da floresta e criado a civilização”? E agora? Não precisou mudar
de página para se contradizer.
9. O jornalista prossegue: “Se a ética (que nasceu da religião,
conforme ele afirma) tem origem religiosa, por que ela prevalece na sociedade
laica?”
Ele responde: “As igrejas se tornaram, continua ele, um fator de corrupção, motivo de guerras e
perseguições. Por sorte presenciamos o declínio da crença no sobrenatural.
Países do norte europeu, onde apenas um quarto da população segue alguma
religião, têm índices de criminalidade, suicídio e doenças sexualmente
transmissíveis inferiores aos de estados em que a maioria dos habitantes é de
crentes, como os Estados Unidos e o Brasil. Se a religião se declara um bastião
da bondade, por que, historicamente, estados teocráticos são mais suscetíveis à
criminalidade do que os seculares?”
Vejamos:
a) durante séculos, a igreja e o
estado, se misturaram. As corrupções, as guerras e as perseguições sobraram
para as igrejas.
b) em que alfarrábio o distinto
psicólogo encontrou a constatação do declínio
da crença no sobrenatural? Foi no Google ou foi no Yahoo?
c) gostaria que o entrevistado
nos apontasse os países do norte europeu em que três quartos da população não
seguem religião alguma.
d) onde ele encontrou provas
incontestáveis de que a criminalidade, o
suicídio e as doenças sexualmente transmissíveis se devem à crendice dos povos?
Em que parâmetros ele se baseia para afirmar que a criminalidade, o suicídio e
as doenças sexualmente transmissíveis, no Brasil e nos Estados Unidos, se devem
às religiões? Se assim é, Deus (perdoe) do céu!, eis aí a solução de todos
esses problemas: decrete-se o fim das religiões no Brasil e nos Estados Unidos
que não haverá mais crimes, não haverá mais suicídios, não ocorrerão mais
doenças sexualmente transmissíveis! Viva Mr. Michael Shermer!
c) precisamos, verdadeiramente,
saber quais os estados teocráticos que foram mais suscetíveis à criminalidade!
Isto será muito importante para o avanço da ciência e para a diminuição das
crenças entre os homens!
10. Aqui o jornalista “sacaneou”
o entrevistado. Lá atrás ele dissera que “por
sorte presenciamos o declínio da crença no sobrenatural”. Em seguida, na
tampa, o jornalista lhe pergunta:
“Apesar de vivermos na era da ciência, cresce a crença no sobrenatural. Por
quê?” – E o que ele responde?
a) Nada! Divaga, enrola, e nada
diz. Pois veja a sua resposta: “...
poucos abdicam de crenças sobrenaturais e aceitam a ciência como ferramenta
para explicar o universo. A maioria só quer aproveitar os produtos da ciência.
Quando se trata de responder a dúvidas primordiais, como a origem do universo
ou o sentido da existência, preferem explicações irreais, mas convincentes em
suas narrativas fictícias”. Insisto, ele não respondeu ao jornalista, que
lhe perguntou: “porque cresce, hoje, a
crença no sobrenatural?”.
b) ele acha que a maioria não
deveria “gostar de iPhones nem de admirar
as naves que pousam em Marte. Deveria preocupar-se com as dúvidas primordiais,
como a origem do universo ou o sentido da existência”. Então o homem não
deve aproveitar os avanços da ciência para viver melhor, para ir adiante? E o
sentido da existência tem alguma coisa a ver com ciência? Não era com
filosofia, religião, etc.?
11. “Porque o senhor se dá ao trabalho de combater a superstição?” (esta pergunta foi fo...go!).
Eis sua resposta: “Sempre me perguntam por que não deixo os
crentes em paz. Ocorre que a crença no sobrenatural não é inócua. Ao contrário,
é bastante perigosa. Acreditar na dita medicina alternativa é um exemplo. Muita
gente morre ... por consumir ervas com propriedades supostamente milagrosas”.
a) também eu pergunto: por que
vossa senhoria não deixa os crentes em paz? Não vai com as caras deles?
b) acreditar em deus, diz ele, é
bastante perigoso. Como diz o nordestino, “penso não!”. Guimarães Rosa é
quem dizia: “viver é muito perigoso!”.
c) eis que ele nos mostra, além
da fé, outra razão para as desgraças do
mundo: a medicina alternativa.
d) onde está escrito que a
medicina alternativa prejudica a ciência? Ciência limitada, esta, não?
12. “Não é possível provar a existência de divindades e criaturas fantásticas. O senhor
concorda que também é difícil provar que não existam?” – (este jornalista é
fogo! Humilhou!).
Vejamos sua resposta: “o fato de não explicarmos um mistério não
significa que ele exija explicações sobrenaturais. Só mostra que ainda não há
resposta. O ônus da prova cabe aos crentes. O cético só crê no que é provado.
Existem 10.000 religiões. Espanta-me a arrogância de quem supõe que só uma
crença seja correta em meio a tantas”.
Vamos lá:
a) beleza: não tendo explicações
sobrenaturais, o crédulo não precisa explicar o mistério da sua fé!
b) o ônus da contra-prova é que
cabe àqueles cientistas que não se preocupam verdadeiramente com a ciência e
vivem, isto sim, a se preocupar com as religiões. Quem tem fé não tem nenhuma
preocupação em prová-la para ninguém.
c) quem disse que os crentes não
crêem no que é provado?
d) espanta-me a sua capacidade em
contar religiões: 10.000. Não serão 9.999?
e) também me espanta a sua
arrogância em se pretender “o certo”, considerando “erradas” todas as religiões
e seus seguidores.
13. “O senhor leva em consideração que pode estar errado?” (jornalista
bão, sô!).
Olha a resposta (a última, GRAÇAS
A DEUS!): “Assim como todos, só
descobrirei a resposta quando morrer. Como cientista, estou aberto à
possibilidade de ter me enganado. Se houver um ou vários deuses, ficarei
surpreso. Mas não tenho medo. Se há um Deus, ele me deu um cérebro pra pensar.
Meu pecado seria usá-lo para raciocinar e buscar explicações? Um ser
benevolente não me puniria por utilizar bem as armas que me concedeu”.
Não me contenho:
a)
petulante, o homem! Quem disse que, quando
morrermos, teremos a resposta? A ciência nos garante?
b)
(Como
cientista, estou aberto à possibilidade de ter me enganado) - nestas
questões, não só os cientistas estão “abertos” à possibilidade do engano. Os
crentes, também!
c)
fico imaginando este homem corajoso (mas não tenho medo), lá, no depois,
ficando surpreso ante à fatalidade de encontrar um ser superior ou uma penca
deles!
d)
“Se há um
Deus, ele me deu um cérebro pra pensar”. Bem, finalmente o arrogante se
entregou: supondo que ele tem um cérebro (que não foi a ciência que lhe deu),
ele conclui que foi Deus quem o agraciou. A frase não é do jornalista, nem
minha. É DELE!
e)
Meu pecado
seria usá-lo para raciocinar e buscar explicações? Se não é pecado um
cientista usar seu cérebro para raciocinar e buscar explicações, qual o pecado
que tem o crente em também usar o seu para buscar Deus?
f)
Para encerrar esta entrevista extraordinária,
elucidativa, reveladora, ele confessa: “Um
ser benevolente não me puniria por utilizar bem as armas que me concedeu”.
Pergunto:
se um ser benevolente (Deus) não puniria um cientista esnobe, que não acredita
Nele, por usar seu cérebro para pensar, porque puniria um crente que Nele
acredita? Não dá a impressão, nesta resposta, que ele já está pedindo arrego a
Deus?
Caros amigos,
irmãos na fé de que um dia a raça humana vai deixar de gerar “certos tipos”,
concluindo, eu lhes pergunto: pode, um homem, psicólogo, historiador da ciência
estadunidense, que já escreveu QUINZE livros, criou ONGS, revista, sites,
programas de TV, tudo focado na promoção do pensamento científico com o
objetivo de “desmascarar charlatães”, com uma atividade tão intensa, dizer
tanta bobagem?
Quem é
charlatão?
Rogério Sousa.
FLN 21-08-2012
Em tempo:
ele virá ao Brasil no final deste mês para uma série de palestras. Não perca!
Desculpe mas achei suas contestações mais superficiais que as do psicólogo. Aqui tem os países com maor numero de ateus: http://mundoestranho.abril.com.br/materia/qual-e-o-pais-com-mais-ateus-no-mundo
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